Pra quem disfarça sem chorar, e pra quem chora sem disfarçar

Os tempos de universidade poderiam ter sido melhores, já que vivi a minha primeira guerra – contra mim. Mas isso não vem ao caso. Não agora. O que importa é que algumas pessoas eu quero levar na lembrança, e ali no meio está alguém que tem dividido comigo suas angústias, no apartamento 33 da rua de paralelepípedos. Hoje, podemos dizer que o período é de guerra fria, e isso sempre entra em discussão. Tentamos trocar conselhos, mas o que eu digo nunca se encaixa ao que ela realmente gostaria de fazer, e vice-versa. No mês do desgosto, dediquei a ela isso aqui:

Hoje, conversando com uma pessoa que parece ser bem diferente de mim, cheguei à conclusão de que sofrer pode ser uma escolha, e não uma sina. E no final, descobri que nós duas nem somos tão diferentes assim. Em comum, uma predileção excêntrica: a gente sempre escolhe sofrer. Eu, de um jeito muito passional. Ela, em silêncio, mantendo o orgulho, pra ninguém perceber.”

 Eu admiro muito como essa menina reage diante das negações da vida, porque sofre em silêncio, enquanto eu… Não há uma só gota de orgulho que me detenha, embora acredite que a convivência com alguém que se domina tão bem, e um tanto calculista, esteja me servindo de exemplo. Minha voz costuma embargar, o choro vem fácil, brigo, mando e-mail na madrugada. Minhas frustrações são fardo pesado, e simplesmente não dou conta de guardar tudo aquilo que vai corroendo a garganta. Ainda mais quando a gente cresce, e ser perfeito fica ainda mais difícil. Na infância, é só fazer gracinha, ter bons modos e ir bem na escola. Se você, assim como eu, se alimenta(va) de elogios, provavelmente foi uma criança que fazia tudo direitinho só pra ouvir a mãe se gabar. O tempo passa e há tantas pessoas tão ou mais interessantes, e quem aprendeu a lidar com rejeição, aprendeu. Quem não aprendeu, ainda vai levar muita ‘bordoada’ da vida. O que você faz diante das rejeições? Todas elas, em todos os aspectos? A menina que mora no 33 tem sentimentos, sim. A voz também embarga, o choro vem uma hora, e provavelmente ela escreve e-mails no meio da madrugada. E nunca os envia. A menina aprendeu direitinho a lição do Cartola, mas ainda não conseguiu me responder: quem chora e disfarça sofre menos do que quem o faz de peito aberto? E foi de todas as nossas conversas que isso tudo veio parar aqui.

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4 respostas para Pra quem disfarça sem chorar, e pra quem chora sem disfarçar

  1. carol disse:

    e eu que sou de escrever ganhei uma escrita pra mim. nem disfarcei: chorei. (mas só pq ng viu)

  2. Camila Morais disse:

    tanta coisa bonita guardada aí dentro. Finalmente vão saber!

  3. Ise disse:

    Estou no refugio do meu quarto, escondida pela madrugada, sem disfarçar agora as lagrimas que desejavam descer por todo o dia, dia que foi como uma roda gigante emocional, me levou de cima a baixo e fez mal no final. É como diz magico: “os olhos mentem dia e noite a dor da gente”, ta tudo la dentro, revirando, remoendo, na maioria do tempo agente ri pra distrair, mas ai vem um pedra, chutada por alguem que nem pensou onde ela ia bater. O riso escondeu e a lagrima desceu. A hora que a mente parar pensar, vou tentar dormir, quem sabe amanha seja um novo dia!

  4. Hemes disse:

    “O que importa é que algumas pessoas eu quero levar na lembrança”.
    Assim é que é, né dona Tati?
    Muito pontual a questão de ser fácil fazer bonito na escolinha, porque, desde pequeno, a gente acarreta esse negócio de querer agradar aos outros.
    Mas, enquanto a gente não aprende a dizer sim a nós mesmos, ao que a gente quer que seja NOSSA vida, passamos o tempo todo a não dizer não a quem precisa.
    Daí é chorar e “molhar o deserto”.
    Beijo

    Escreve outro.

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